domingo, 29 de janeiro de 2017

com meus camaradas joguei dominó, dei um trago no cânhamo misturado ao tabaco

revirando as tripas do breu do aqui luz,
no azeite do homem
revirado pelos alicates e bisturis


eu ser remendado,
emoldurado por curativos,
pétalas que me cobrem os talhos
construídos pelos exímios cirurgiões


quatorze pontos fecham os túneis
cavados em meu ombro direito,
desenhos da minha particular lenda.
relógio das ricas horas
que passei com os camaradas
que conheci no hospital lourenço jorge


e comemos biscoitos
e comemos rabanada 

dia 23 de dezembro
antes de dormir,
após a falha tentativa de operar-me
pós estar anestesiado
e em sono profundo
( a máquina de perfurar ossos,
resolveu deixar de funcionar
bem no momento d'eu ser cortado...


dois pinos de titânio
seguram, 

prendem meu ombro ao braço,
os ligamentos haviam sido rompidos
pós a queda da bicicleta
em plena estrada dos bandeirantes...


com meus camaradas de leito 
joguei dominó,
dei um trago no cânhamo 

misturado ao tabaco
para que ninguém notasse 

o que fazíamos
no pátio das ambulâncias,
nessas noites de quase desespero,
o delírio é um aliado,
diablito necessário, a ponte, a lente


juro saudade de toda a equipe
que cuidou de mim 

e de meus camaradas,
dos maqueiros, 

das enfermeiras e enfermeiros,
da farta e deliciosa comida,
das agulhadas constantes,
do sabor da dipirona intra venal.
de ter que dormir com dois cobertores
por conta do intenso frio 

das enfermarías,
frio esse, 

que evitam 
que as bactéria se multipliquem 

a morte dos corpos 
guardados em sacos plásticos,
e a silenciosa morte 
dos que se negam a ajudar,
dividir tudo: 

dos seus leitos, 
a solidariedade do irmão,
da irmã, 

aos que sofrem ao nosso lado

( edu planchêz )

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